
Kali se sentia esquisita, com raiva, com dor, traída, meio perdida. Sentia falta de poder conversar com pessoas em que ela confiava, sentia falta de coisas que talvez nunca voltassem a ser como antes. Ela reconheceu dentro de si um sentimento que há muito tempo a fazia companhia, mas que estava adormecido: a solidão.
Kali se sentia muito sozinha, desde que podia se lembrar. Nunca foi de ter muitos amigos, na sua infância cresceu em uma casa onde não tinham crianças nas redondezas. Ela era feliz, havia criado um mundo só seu onde podia ser quem quisesse. Na adolescência conheceu algumas pessoas, algumas ficaram e ela conseguiu manter uma bela amizade, outras se foram e parecem memórias apagadas dentro dela. Porém seu melhor amigo nesses anos foram os livros que leu, com eles ela descobriu um novo mundo de fantasias e de refugio, como quando era bem pequena. Com eles se sentia viva, segura e feliz; era sempre uma emoção diferente a cada troca de página. Então ela se apaixonou pelo cheiro, pelas capas, pelas historias de cada um daqueles livros que fizeram dela uma pessoa mais completa, com eles ela podia fugir de tudo e mergulhar nos seus personagens, podia ser quem quisesse, podia amar qualquer um, sem nunca deixar de ser correspondida. Kali sente falta dessa época, quando só os livros a satisfaziam, ela se penaliza por ter dado seu coração a quem só fez machucá-lo, ter confiado em pessoas que depois a deram as costas. Por mais que finja ser durona, é tão sensível quanto uma pétala de rosa, ela ama, sente e sofre demais. Tenta se conhecer, porém, esta sempre tão confusa.
Hoje Kali tem medo de ser sozinha, ama e odeia a solidão que sempre fora sua melhor amiga e inimiga. Ela queria se sentir amada e protegida, se sentir segura. Hoje não sabe o que fazer, a quem recorrer. Tentar voltar para dentro de si é complicado e exige paciência. Ela nunca foi muito boa nisso. Kali quer gritar até que não consiga mais, quer berrar pro mundo que existe, ele querendo ou não. Por que ela se sente assim, sempre tão triste e deprimida, com uma dor tão grande que ela quase não consegue respirar e que não sabe direito de onde vem? – ela sente como se tivesse perdido seu chão ultimamente. Chora a noite escondida, por vergonha da sua fraqueza, precisava ser mais forte, queria ser – ela dizia, mas as lagrimas vinham devagar e com força a fazendo perceber que não era nada, ou coisa alguma. Falava que essa era a ultima vez em que se sentia assim por alguém, porém sempre era surpreendida e lá vinha aquela dor e lagrimas mais uma vez.
Ela quer mandar tudo pro inferno, mas não sabe como e talvez secretamente não queira, tudo parece sempre tão confuso em sua mente.
Ela só sabe que se sente: sozinha, perdida, com raiva, com medo, magoada, isolada, triste, confusa e com tanto amor dentro dela, que não sabe o que fazer com todos esses sentimentos que insistem em desconcertá-la.
Paula
Obs: Obrigado Thiago por ter salvado esse emaranhado de linhas dos meus erros de português!